Ficou curioso com o título? Leia o texto e entenda melhor a relação do sono e melatonina
VERÃO, MELANINA E MELATONINA
Estas três palavras no título podem parecem desconexas, à primeira vista, mas logo as justifico contando uma curiosidade. Esse é o meu primeiro texto sobre sono de 2020 e estamos na época de verão, a mais ensolarada, mais quente do ano e com os dias mais longos, e estes fatores (luminosidade e temperatura) podem dificultar o início do sono para muitas pessoas, já que precisamos baixar nossa temperatura corporal e de escuridão para termos um sono de qualidade. Já a “Melanina” é o nome que se dá para a proteína que confere pigmentação à pele e quanto mais exposição solar (mais verão) maior o “bronzeamento” na pele. Tem até música que pede para o sol “enriquecer a melanina e fazer sorrir”, não é? E, por falar em pele, aqui vai a curiosidade: a “melatonina” foi descoberta, por acaso, por um dermatologista em 1958, Aaron Lerner. Há muita confusão a respeito da melatonina e o sono, e é sobre isso que vou conversar a seguir, para tentar esclarecer e evitar usos equivocados.
Cada vez mais pessoas usando, por conta própria, melatonina sintética, manipulada no Brasil ou trazida do exterior (com qualidade questionável), procuram-nos muito frustradas com o resultado do uso deste hormônio. Sim, melatonina é um hormônio e devemos frisar isto! Não é uma suplementação de vitaminas trivial.
Saiba que o nosso organismo sofre interferências de um ciclo dia-noite (ou claro/escuro) e à medida que a escuridão toma conta do ambiente, a retina envia sinais para a glândula pinel iniciar a síntese da melatonina, que é bloqueada na presença de luz. Isto regula nosso relógio interno.
Os estudos ainda não conseguiram comprovar um benefício geral da melatonina para se iniciar o sono ou ajudar na sua eficácia, ou seja, a melatonina não tem uma ação chamada de “hipnótica”, para se dormir mais rápido! Sua ação é na regulação do nosso relógio biológico (cronobiológica) e tem indicações muito precisas, em alguns distúrbios do sono (por exemplo distúrbios do comportamento do sono REM, correções do sono do idoso, dessincronização entre o ciclo vigília-sono, jet lag) e com indicação personalizada de dose.
Uma pessoa com hipotireoidismo, por exemplo, necessita de suplementar hormônio tireoidiano porque não produz o necessário. No caso da melatonina, isso não ocorre. São poucas as pessoas que não a produzem em quantidade suficiente e apenas uma parcela de idosos parece se beneficiar.
Por isso, é muito mais lógico otimizar a liberação natural da melatonina no organismo através de hábitos saudáveis (evitar exposição excessiva à luz de eletrônicos à noite, praticar exercícios físicos durante o dia e ter alimentação saudável), do que se arriscar com suplementação!